É comum nos depararmos com textos repletos de palavras contendo determinadas vogais substituídas pela letra "x" ou pelo símbolo "@" (arroba), sobretudo no Facebook, por intermédio de páginas dadas à politização e vinculadas a alguns movimentos sociais, principalmente àqueles relacionados à questão da identidade e igualdade de gênero (movimentos feministas e movimento LGBTS, entre outros), mas também em sites relacionados direta (mantidos por entidades) ou indiretamente (pertencentes a indivíduos, sejam eles militantes ou simpatizantes) a esses mesmos movimentos.
Muitos não sabem o porquê dessa substituição, mas é bem simples de entender: havendo o entendimento de que a sociedade tem se desenvolvido sob parâmetros machistas e patriarcais, procura-se igualar os gêneros masculino e feminino em diversos espaços, como o civil, o político, o militar e, entre outros, o linguístico também, pois a língua portuguesa seria machista, podendo-se utilizar dos seguintes exemplos para comprovar isso:
I - Quando houver um agrupamento constituído por duas ou mais mulheres e somente um homem, a pessoa que for se referir a esse conjunto deverá fazê-lo utilizando-se do pronome pessoal "eles", jamais "elas".
Ex.: Sabe a Carla, o João, a Flávia e a Ana? Pois é, foram eles que me disseram isso!
II - A esmagadora maioria das espécies animais é vulgarmente denominada e reconhecida pelo mesmo nome dado ao indivíduo macho daquela espécie, como em "leão", "homem", "cachorro", "gato", "lobo", "urso" e tantos outros.
Ex.: Os leões não possuem predadores naturais e são parentes dos gatos, os quais caçam os ratos que, se não controlados, podem infestar a cidade.
Fora isso, ainda tem o fato de que os pronomes e artigos masculinos são utilizados para a referenciação generalizada, coletiva, a exemplo da primeira exemplificação. E é por isso que muitos fazem a substituição das vogais nesses pronomes e artigos, para que a referenciação se dê de maneira mais igualitária.
Quanto à minha opinião a respeito, bem, eu penso que seja um desperdício de tempo fazer tais substituições, já que outras construções podem ser perfeitamente utilizadas, mantendo-se o sentido do texto e deixando clara a referência a homens e mulheres. Fora que o uso dessa prática em palavras terminadas em "-nte", parece-me deveras esdrúxula (tão esdrúxula quanto substituir o "-e" por um "-a", como em "presidenta", mas mais à frente volto a falar sobre), já que tais palavras são de utilização válida tanto para homens quanto para mulheres (salvo exceções, as quais comprovam a regra) - no mínimo, essa substituição deveria ocorrer somente no determinante (artigo, numeral, pronome) precedente a tais palavras. Assim "os estudantes" viraria "@s estudantes", e não "@s estudant@s", como já cheguei a ver.
Enfim, a partir disso, penso que seria bom discorrer um pouco acerca do processo de formação de alguns determinantes da língua portuguesa, sobretudo dos artigos e dos pronomes.
A Origem Origem dos Pronomes da Terceira Pessoa e dos Artigos
Segundo ASSIS (p.12), "o latim clássico não possuía artigos, enquanto o latim vulgar apresentava pronomes demonstrativos e o numeral unus com o valor de determinativo (artigo definido e indefinido)". Assim, (adaptando o exemplo dado pela mesma autora) o que hoje dizemos "O livro" ou "um livro" era indistintamente dito em latim clássico como "liber", enquanto que no latim vulgar se dizia "illu libru" (o livro) e "unu libru" (um livro).
Teyssier (p.17) nos dá maiores detalhes sobre o processo de transformação de pronomes demonstrativos latinos nos artigos definidos portugueses:
Um artigo definido forma-se com base no demonstrativo ille. As quatro formas saídas do acusativo, diferenciadas em número e em gênero — illum, illam, illos, illas —, dão inicialmente lo, la, los, las, em virtude da aférese sofrida pelo seu emprego pro clítico. Como estes artigos vinham freqüentemente precedidos de palavras terminadas por vogal — ex.: vejo lo cavalo, vende la casa —, o l desapareceu à semelhança de todos os l da língua que se achavam em posição intervocálica, com o que se chegou às formas o, a, os, as. E, por fim, para compensar o empobrecimento da morfologia nominal, a ordem das palavras torna-se mais rígida.
Pinho (2012, p.208) também menciona o demonstrativo latino ille:
O que mais chama a atenção na comparação do sistema pronominal latino com o sistema pronominal do português é a falta de um pronome de terceira pessoa em latim. Tal falta era compensada com outras estratégias, tal como o uso dos pronomes demonstrativos ipse e ille.
Discorrendo, ainda, sobre o desenvolvimento desses dois demonstrativos em pronomes pessoais da terceira pessoa, destacando que ille predominou na maior parte da România (o território ocidental do Império Romano) e também tratando do processo de transformação do mesmo em artigo definido, citando Tarallo (sim, eu sei que é "feio" utilizar apud quando a obra é acessível ao público, mas como nesse caso e momento ela não o é para mim, faço uso desse recurso):
Os artigos vieram da forma acusativa – a única que sobreviveu nos nomes –, do pronome ille, que eram illum e illam. Como os artigos concordavam, como ainda hoje, com o substantivo que os acompanhava, com o desaparecimento do caso nominativo dos substantivos, na passagem no latim vulgar ao romance, também há o desaparecimento da forma ille dos artigos, restando illum/illam, no acusativo, com as respectivas formas do singular e do plural. Portanto a seguinte evolução na formação dos artigos definidos:
Masculino singular: illum > illu > ellu > elo > lo > o
Masculino plural: illos > ellos > elos > los > os
Feminino singular: illam > illa > ella > ela > la > a
Feminino plural: illas > ellas > elas > las > as
(TARALLO apud PINHO. 2012, p.210-211)
Ao tratar mais aprofundadamente sobre o pronome da terceira pessoa, Pinho diz que:
Além da oposição entre o gênero masculino e o feminino, há o gênero neutro, que se perdeu ao longo da evolução da língua. Mas o português moderno ainda conserva alguns traços do gênero neutro entre os demonstrativos: isso, isto e aquilo, que atualmente fazem referência a objetos inanimados (ex.: “Olhe só para aquilo no chão. Parece uma pedra”). A existência do gênero neutro na terceira pessoa faz com que se tenha um paradigma um pouco mais complexo em latim vulgar. (PINHO. 2012, p.217-8)
E aqui chegamos ao ponto que eu gostaria de tratar: A existência do gênero na Língua Portuguesa é uma realidade, então, seria possível estendê-la de modo a facilitar a contemplar a igualdade entre os gêneros?
"Neutralizando" a Língua
Pode parecer estranho para alguns, mas a Suécia discutiu em 2012 e aprovou em 2013 a criação de um pronome neutro para a terceira pessoa, pois a língua sueca possuía, até então, somente um pronome masculino e um feminino para a terceira pessoa, "han" e "hon", respectivamente. Assim, o pronome "hen", cunhado por linguistas suecos durante a década de 60 (ROTHSCHILD, 2012), passou a ter a sua adoção discutida, adoção essa que já havia sido sugerida em 1994, pelo linguista Hans Karlgreen (Idem, 2012).
Mas o grande diferencial desse episódio ocorrido na Suécia não é a intervenção política para a adoção de um pronome neutro para a terceira pessoa, pois não só intervenções políticas acontecem na utilização das línguas desde que o mundo é mundo, como muitas línguas possuem pronomes neutros para a terceira pessoa, mas sim no fato de que esse pronome também é útil para se referir a alguém que não se identifica com os papéis tradicionais de gênero.
Então, retomando e ampliando a questão: Sendo a existência do gênero na Língua Portuguesa uma realidade, seria possível estendê-la, mediante a criação de pronomes e artigos, de modo a facilitar a contemplar a igualdade entre os gêneros?
Eu penso que sim, que seja possível e que, inclusive, pode-se tomar o episódio sueco como exemplo de praticidade, uma vez que seria virtualmente impossível fazer vigorar a utilização de 16 (dezesseis) diferentes pronomes para a terceira pessoa do singular - 32 (trinta e dois), se considerarmos o plural. Portanto, o ideal seria a adoção de um pronome neutro para a terceira pessoa, de uso mais geral, além do seu respectivo plural.
Uma medida como essa seria, no mínimo, interessante, mas, como também é possível ver a substituição de vogais por "x" e "@" em artigos, demonstrativos e outros pronomes, não seria o suficiente e haveria a necessidade de criar uma versão neutra para cada um, a grande questão passando a ser "como seriam esses pronomes?" (sim, eu considero os artigos mais como pronomes do que como uma classe gramatical em separado).
"Neutralizando" a Língua e explorando as possibilidades do Português
Pois bem, lembro de, no Youtube, ter visto, em certo canal (não lembro agora qual), uma menção ao demoníaco personagem denominado "Ele", do desenho "As Meninas Superpoderosas", como "êla", pois "Ele" seria extremamente andrógino, tornando-se dificílima a sua referenciação. A mescla dos pronomes masculino e feminino da terceira pessoa para formar um terceiro pronome mostra-se curiosa e, na realidade, não é "nova", sendo mencionado no Dicionário Informal, em 12 de abril de 2011, pelo usuário "Linguista de Plantão".
Uma combinação dos pronomes ele e ela. Usado para definir uma pessoa que não sabe se é "ele" ou "ela" ou que sabe ser um dos dois mas que quer continuar sendo um aparentando ser outro gênero (masculino ou feminino); homossexual; viado, bicha, sapatão, lésbica.
Êla (que na verdade é ele, mas que gostaria de ser ela, ou vice-versa), quer ser atendida por você, sua louca!!!
Entretanto, pode-se perceber certa confusão ao associar homossexuais e a ideia de "os mesmos gostariam de ser membros do outro gênero", bem como de que todo indivíduo nascido macho, mas que apresente trejeitos afeminados, seja gay, por exemplo. Essa confusão está implícita da definição fornecida pelo usuário, entretanto, deve-se ressaltar que é um erro comum:
Uma das concepções errôneas mais freqüentes envolvendo gênero é a de que homens com traços ou gestos considerados femininos são necessariamente gays, ou que mulheres que vestem roupas largas são, com certeza, lésbicas. Esta idéia é geralmente acompanhada daquela segundo a qual homens afeminados queriam ser mulheres, e mulheres masculinizadas queriam ser homens. (PINHEIRO. 2010)
Mas, voltando à questão da possível adoção de pronomes neutros, além do "êla(s)", poder-se-ia ter, também um "éle(s)". No caso, aquele faria referência aos "machos biológicos de psiquê feminina", enquanto este seria utilizado para as "fêmeas biológicas de psiquê masculina", enquanto "ele(s)" e "ela(s)" diriam respeito aos "machos biológicos de psiquê masculina" e às "fêmeas biológicas de psiquê feminina", respectivamente. Claro, outra opção seria a já mencionada adoção de um só pronome neutro para a terceira pessoa, além do seu respectivo plural. Assim, por analogia com "ele" e "ela", respeitando certas características da língua (como o fato de que o "e" e o "o" em final de palavras muitas vezes são pronunciados como "i" e "u", respectivamente) e tendo em vista a necessidade de se transmitir uma noção neutra, as possibilidades poderiam ser "ilí(s)" ou "ile(s)", mas também "ulo(s)". Eu particularmente penso que esse último consegue transmitir a noção de neutralidade, talvez por ser estranho.
Só que não basta pensar num pronome pessoal no caso reto, pois na nossa língua os pronomes adquirem diferentes formas e possuem equivalentes nos pronomes possessivos. Entretanto, haveria apenas a necessidade de estabelecer uma forma oblíqua átona e o possessivo, visto que as formas "se", "lhe", "si" e "consigo" são de utilização tanto para "ele", quanto para "ela", podendo, portanto, ser perfeitamente utilizadas para um hipotético "ilí(s)", "ile(s)", "êla(s)", "éle(s)" ou "ulo(s)". Essa forma seria correspondente às formas "o(s)" e "a(s)" que os pronomes "ele(s)" e "ela(s)" assumem. Aliás, note que essas formas oblíquas átonas são idênticas aos nossos artigos definidos "o(s)" e "a(s)" - isso é devido à origem comum entre pronomes pessoais e artigos definidos, como anteriormente visto.
Assim, teríamos as seguintes possibilidades:
"Êla"
Singular Reto: êla; Singular Oblíquo Átono: se, lhe, ê, lê, nê; Singular Oblíquo Tônico: si, consigo, êla; Plural Reto: êlas; Plural Oblíquo Átono: si, consigo, ês (a pronúncia acabaria ficando idêntica a de "ex" em algumas regiões), lês, nês; Plural Oblíquo Tônico: si, consigo, êlas.
Contrações: dêla(s), nêla(s).
Possessivos: suê(s).
"Éle"
Singular Reto: éle; Singular Oblíquo Átono: se, lhe, é, lé, né; Singular Oblíquo Tônico: si, consigo, éle; Plural Reto: éles; Plural Oblíquo Átono: si, consigo, és, lés, nés; Plural Oblíquo Tônico: si, consigo, éles.
Contrações: déle(s), néle(s).
Possessivos: séu(s).
"Ilí"
Singular Reto: ilí; Singular Oblíquo Átono: se, lhe, i, li, ni; Singular Oblíquo Tônico: si, consigo, ilí; Plural Reto: ilís; Plural Oblíquo Átono: si, consigo, is, lis, nis; Plural Oblíquo Tônico: si, consigo, ilís.
Contrações: dilí(s), nilí(s).
Possessivos: suí(s).
"Ile"
Singular Reto: ile; Singular Oblíquo Átono: se, lhe, i, li, ni; Singular Oblíquo Tônico: si, consigo, ile; Plural Reto: iles; Plural Oblíquo Átono: si, consigo, is, lis, nis; Plural Oblíquo Tônico: si, consigo, iles.
Contrações: dile(s), nile(s).
Possessivos: siu(s).
"Ulo"
Singular Reto: ulo; Singular Oblíquo Átono: se, lhe, u, lu, nu; Singular Oblíquo Tônico: si, consigo, ulo; Plural Reto: ulos; Plural Oblíquo Átono: si, consigo, us, lus, nus; Plural Oblíquo Tônico: si, consigo, ulos.
Contrações: dulo(s), nulo(s).
Possessivos: suo(s) ou suô(s).
Pessoalmente, eu dou preferência para o "ulo(s)', mas com as formas oblíquas átonas do "éle(s)", isto é, "é(s)", "lé(s)" e "né(s)", ou, então, com formas oblíquas átonas com o "o" aberto: "ó(s)", "ló(s)" e "nó(s)".
Quanto aos demais determinantes, no caso dos artigos possíveis, eles acabariam tendo a mesma forma que o pronome escolhido quando oblíquo átono, no caso, poderia ser: ê(s), é(s), i(s) ou u(s). Entretanto, considerando a possibilidade de confusão entre "é" com o verbo "ser" no presente do indicativo e a confusão entre "u" e o "o", as opções ficam reduzidas a "ê(s)" e "i(s)". Assim, teríamos um determinado pronome com certa irregularidade, se comparado com os outros dois pronomes da terceira pessoa.
No caso dos artigos indefinidos, temos "um", "uns", "uma" e "umas", sendo que as possibilidades para artigos indefinidos neutros poderiam ser: "im (ins)"; "õ(s)"; "ã(s)"; "ão(s)" e mesmo "ein(s)", além de "ime(s)", "umu(s)", "imu(s)", etc.
Os demonstrativos, por sua vez, são outro caso, pois os mesmos já possuem uma forma neutra, porém, a mesma somente é utilizada para coisas, para seres inanimados. objetos, ou seja, não seria uma boa ideia apenas expandir o significado dos mesmos. Deste modo, poderíamos ter algo como: "ista(s)" ou "usta(s)", "issa(s)" ou "ussa(s)", "aquêla(s)" ou "aquéla(s)" ou "aquile(s)".
Já os pronomes indefinidos são mais complicados, ou melhor, é mais complicado encontrar uma alternativa para o sistema binário deles, principalmente porque, a meu ver, os sons ficariam pouco agradáveis aos ouvidos (não que as alternativas já vistas para pronomes pessoais e artigos definidos o sejam): "tode(s)", "todó(s)", "pouque(s)", "certe(s)", "tante(s)", etc. Dos pronomes indefinidos variáveis, nenhum se mostra útil de maneira independente, isto é, sem precisarem estar acompanhando palavras como "homem", "garota" ou "pessoa". Por outro lado, os pronomes indefinidos invariáveis "alguém", "outrem" e "ninguém" se mostram úteis, mas apenas para casos que exigem o singular e quando a referência a uma terceira pessoa é feita de maneira indireta.
Por fim, os pronomes interrogativos e os pronomes relativos se mostram completamente alheios a essas questões.
Concluindo
A partir do exercício de imaginação feito na seção anterior, pode-se ver que a "necessidade" de desenvolvimento e adoção de pronomes neutros na língua portuguesa atingiria apenas uma parte dessa classe gramatical, mais especificamente alguns pronomes indefinidos variáveis, os pronomes da terceira pessoa, os pronomes possessivos referentes à terceira pessoa, os artigos definidos e os artigos indefinidos, enquanto muitos pronomes indefinidos variáveis, todos os pronomes indefinidos invariáveis, os pronomes interrogativos, os pronomes relativos e todos os demais pronomes pessoais e possessivos ficariam de fora dessa questão.
Mas isso não chega a ser preocupante, pois esse mesmo exercício se deu mais para (começar a) investigar as possibilidades da língua portuguesa quanto à essa questão, tendo em vista a busca por uma facilidade comunicacional. Somente isso. Não há a intenção de propor uma modificação real no esquema de pronomes da língua, até mesmo porque é perfeitamente possível adotar outras saídas, como, por exemplo, admitir o fato de que o gênero gramatical não é a mesma coisa que o gênero sexual e que não é alterando a língua aqui e ali que isso fara os lusófonos serem menos machistas, menos racistas ou afins. Apenas para exemplificar, não é passando a chamar a presidente de "presidenta", quando apenas a utilização de um singelo pré-determinante (a, esta, essa, aquela, uma, nossa, etc.) basta, que a população brasileira tornar-se-á menos machista.
Aliás, esse pensamento "whorfianista" chega a ser perigoso, a meu ver, e muito me lembra a tentativa de purificação linguística presente no clássico 1984, de George Orwell. O "whorfianismo", a saber, é o:
(...) nome dado à hipótese defendida pelo linguista Benjamin Lee Whorf (1897-1941), e também chamada de "relativismo linguístico", segundo a qual a linguagem é, nas palavras do também linguista John McWorther, um "coquetel alterador da mente" - um filtro que determina como pensamos e, mais ainda, o que somos capazes de pensar. Assim, não só a língua portuguesa nos torna machistas, como povos indígenas cujas línguas não trazem o conceito de número têm mentes que se desenvolvem, de algum modo fundamental, diferentemente dos nossos cérebros matemático-quantitativos ocidentais. (ORSI. 2014)
Em outras palavras, é como se, ao suprimirmos a palavra "mentira" e seus derivados do dicionário e parássemos de utilizá-las, as pessoas se tornassem incapazes de mentir. E da mesma forma que isso abre precedentes para ideias de supremacia étnico-racial, veo ainda como um meio de "policiar a mente alheia" e, se a intenção é evitar conflitos e afins, poder-se-a adotar a utilização dos pronomes da terceira pessoa enquanto referenciais ao sexo biológico, do qual há dois (devido ao fato de variações como o caso das superfêmeas não serem comuns, ignoro-as aqui): macho (ou homem, cromossomos XY) e fêmea (ou mulher, cromossomos XX). Uma medida como essa é muito mais simples.
Por fim, é sim possível ampliar a utilização do gênero neutro na nossa língua, mas isso não tornaria nossa sociedade mais igualitária, no que tange à identidade de gênero, apenas traria um recurso a mais para a comunicação (quem nunca se viu perdido ao não saber se trata outrem por "ele" ou "ela"?). Para outros casos, ao invés de fazer uso daquelas substituições mencionadas no começo do texto, pode-se utilizar alternativas fornecidas pelas própria língua. Por exemplo, a frase "todos os estudantes se levantaram" pode ser convertida em "todos os estudantes, homens e mulheres, se levantaram" ou em "a totalidade estudantil se levantou", mantendo o sentido.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Maria Cristina de. História da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://portal.virtual.ufpb.br/biblioteca-virtual/files/histaria_da_langua_portuguesa_1360184313.pdf>. Acesso em: 04 Dez. 2014.
DICIONÁRIO Informal. Êla. Publicado em: 12 Abr. 2011. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/%C3%AAla/>. Acesso em: 05 Dez. 2014.
OLIVEIRA, Egnaldo. Suécia adota pronome de gênero neutro. In:___. Na Ponta da Língua. Publicado em: 04 Abr. 2013. Disponível em: <http://napontadaslinguas.wordpress.com/2013/04/04/suecia-adota-pronome-de-genero-neutro/>. Acesso em: 04 Dez. 2014.
ORSI, Carlos. Linguagem: causa ou sintoma da nossa cultura? Ou nada disso?. Publicado em: 27 Out. 2014. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/blogs/olhar-cetico/noticia/2014/10/linguagem-causa-ou-sintoma-da-nossa-cultura.html>. Acesso em: 05 Dez. 2014.
PINHEIRO, Lívia R. Entenda identidade de gênero e orientação sexual. In: ELEIÇÕES HOJE. Pela equiparação da LGBTfobia ao racismo - PLC 122. Publicado em: 23 Dez. 2010. Disponível em: <http://www.plc122.com.br/orientacao-e-identidade-de-genero/entenda-diferenca-entre-identidade-orientacao/#axzz3KwoNuZNv>. Acesso em: 05 Dez. 2014.
PINHO, Antônio José de. Aspectos da história da língua: um estudo diacrônico e sincrônico dos pronomes oblíquos tônicos. Florianópolis - SC, 2012. 351p. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/106984/318936.pdf?sequence=1>. Acesso em: 05 Dez. 2014.
ROTHSCHILD, Nathalie. Sweden's new gender-neutral pronoun: hen. In: The Slate Group. Slate. Publicado em: 11 Abr. 2012. Disponível em: <http://www.slate.com/articles/double_x/doublex/2012/04/hen_sweden_s_new_gender_neutral_pronoun_causes_controversy_.html>. Acesso em: 05 Dez. 2014.
TEYSSIER, Paulo. CUNHA, Celso (trad.). História da Língua Portuguesa. Ed. Martins Fontes. Disponível em: <http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/158086/mod_resource/content/1/TEYSSIER_%20HistoriaDaLinguaPortuguesa.pdf>. Acesso em: 04 Dez. 2014.
3 comentários:
Texto muito legal.
Concordo quanto a utilização, um tanto que infantil e desesperador, de 'x' e '@' em palavras.
As pessoas não entendem que a evolução da língua está sempre para um caminho de economia, principalmente da fala, mas que tenha sentidos completos. E quando não há sentidos completos sem utilizar muitos termos, surge um neologismo.
Por enquanto, não acredito em utilizar um outro termo, como êla, justamente por não economizar. E deveria trabalhar muito para uma língua perfeita, pois é difícil todos os sotaques e dialetos obedecerem a entonação desse termo em questão, tendo ainda mais confusão.
Trabalhar para separar gênero gramatical e gênero sexual é a melhor opção.
Muito interessante. Por que vcs não têm uma página no face para divulgar os textos?
Saudações Olavo Barreto, nós temos uma página no Facebook, ela se chama "Equinócio das Letras".
https://www.facebook.com/pages/Equin%C3%B3cio-das-Letras/386864451465037
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